sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A verdadeira história da insensatez

Não havia galhos. Nenhum. Apenas pequenas cavidades onde eu poderia encaixar o pé. Olhei para cima novamente. E no mesmo lugar estava ela. Mais bela do que antes. Deveria eu correr o risco de tentar? Um descuido qualquer poderia me levar ao chão e, talvez, não mais me levantaria. Mas ela não só me olhava como parecia me chamar. E eu fui. Só o seu cheiro seria o suficiente para me satisfazer. Minha fome não era tão grande, o desejo de tê-la era maior. Decidi, então, só tocá-la. Não a tiraria de lá.
Vagarosamente, vislumbrando-a, subi.
Do último galho, do qual nascera, se desprendeu. E, de alguma forma, seu caule prendeu-se no tronco da árvore. Já estava lá há tempo. Como ninguém ainda havia a tirado de lá? Aposto que não seduzia apenas a mim.
Debaixo dessa árvore eu já passara outras vezes, e não a enxerguei.
Não sei se não quis vê-la ou se havia se escondido de mim. Ou, simplesmente, não percebi.
Ninguém por perto. O que há de errado? Qual seria o perigo de subir em uma árvore, sem galhos para me segurar, sem alguém para me socorrer se eu caísse, com pequenos espaços para encaixar meus pés?
Foi quando fiquei frente a frente com ela; seu perfume penetrou na minha mente, na minha alma. E a toquei. Toquei com sutileza para não machucá-la. Eu a queria inteira, sem cicatrizes. Aproximei meus lábios da sua pele. Era minha. E, com as duas mãos em volta do seu corpo, escorreguei, pois nada além dos meus pés me mantinha à árvore. E fui ao chão.
Por um momento pensei que a árvore havia me empurrado. Ledo engano. A maçã, percebendo um resquício de lucidez, lembrou-me: é pecado.

Um comentário:

disse...

Bruna,

Cada vez fico mais impressionada com sua criatividade e habilidade para escrever.

Parabéns pela insensatez.

Denise.